quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Aéreas de emergentes descobrem o Brasil

As companhias de aviação de países emergentes têm cada vez mais aberto linhas regulares para o Brasil, atraídas pela expansão do mercado. O transporte aéreo doméstico de passageiros expandiu-se 23,4% entre 2009 e o ano passado - o melhor desempenho desde 2005. A Turkish Airlines, a companhia Boliviana de Aviación (BoA) ou mesmo a israelense El Al, considerada a empresa aérea mais segura do mundo, são algumas das organizações que estão iniciando ou ampliando sua atuação no País e dispondo-se a disputar nossos aeroportos com Air France, British Airways ou United Airlines, e também a competir com as grandes aéreas nacionais (TAM e Gol).

Dados recentemente divulgados pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) dão conta que, além do já citado crescimento de 23,4% do transporte aéreo interno, a taxa média de ocupação nestes voos domésticos foi de 68,8%. Já o fluxo de passageiros em voos internacionais expandiu-se no Brasil, entre 2009 e 2010, 20,3% e a taxa média de ocupação dos assentos esteve ainda melhor, 76,4%. E foi justamente de olho nestes índices, que em novembro último a BoA iniciou sua "ponte aérea" ligando Cochabamba, na Bolívia, ao aeroporto de Guarulhos em São Paulo.

"Hoje operamos três voos conectando a Bolívia ao Brasil, às terças-feiras, quintas e sábados", explica Victor Palenque, diretor local da BoA. "Não fazemos voos diretos de La Paz [capital do país´] porque a altitude da cidade rouba potência dos aviões. Mas Cochabamba está a apenas 25 minutos de voo de La Paz e 35 minutos de Santa Cruz de La Sierra, principal centro econômico boliviano".

São Paulo-Istambul

Há cerca de seis meses 12 acordos de serviços aéreos foram negociados pela Anac com diversos países africanos, asiáticos e árabes. A intenção é justamente estimular os turistas destas nações a visitarem o Brasil, e também facilitar a vida de brasileiros que desejem conhecer países fora do circuito EUA-Europa. Como resultado, empresas cujos aviões nunca pousaram antes no Brasil começam a ser notadas em nossos aeroportos. "As companhias destas regiões são muito competitivas e têm frotas adequadas para voos de longo curso, que são comuns no Brasil. O crescimento no número de empresas, rotas e tipos de serviço oferecidos aos brasileiros não poderia ter acontecido sem a renegociação dos acordos bilaterais", observa o superintendente de Relações Internacionais da Anac, Bruno Dalcolmo.

A Turkish Airlines, da Turquia, é hoje a quarta maior companhia aérea da Europa, com base no número de passageiros transportados. Nos últimos dois anos mais de 20 novos destinos foram incluídos na malha aérea da companhia - e a cidade de São Paulo foi um deles. "O Brasil foi o primeiro País a ser servido pela Turkish na América Latina. Operamos hoje três voos semanais, sem escalas, ligando São Paulo a Istambul e teremos um quarto voo do tipo a partir de 25 de janeiro", detalha Atagun Kutluyuksel, diretor para o Brasil e América do Sul da empresa. Sua organização é outra novata no País, tendo começado a operar por aqui há pouco mais de um ano. "Em 2011 uma de nossas metas é transportar 60 mil brasileiros para a Turquia, Oriente Médio e Ásia. Acreditamos firmemente na força do setor local de aviação", diz ele.

Turismo religioso

Dentre as aéreas de países emergentes que resolveram aterrissar no Brasil recentemente, ou incrementar suas operações no País, há, por exemplo, empresas de países africanos que estão se desenvolvendo através da exploração de recursos minerais (caso da Transportes Aéreos de Angola, TAAG) e outras vindas de nações fortemente focadas em turismo e negócios financeiros (como a Compañia Panameña de Aviación, a Copa, do Panamá).

Há também empresas voltadas para o turismo religioso, como a El Al, de Israel. A companhia aérea, que só iniciou voos diretos para o Brasil em maio de 2009, faz hoje três viagens semanais entre São Paulo e Tel Aviv. Itshak Cohen é o vice-presidente para a América do Sul da El Al, e está entusiasmado com o desempenho da empresa: "De janeiro a novembro de 2010 chegaram a Israel quase 48 mil brasileiros, 85% a mais do que no mesmo período de 2009. Posso dizer que nossa presença aqui é em grande parte responsável por isto", afirma. Embora muita gente vá a Israel em viagem de negócios ou para descansar, Itshak crê que boa parte de seus passageiros é composta de pessoas religiosas que desejam conhecer a Terra Santa.

Vindo para ficar

Diante disto, a pergunta que surge é: esta é uma tendência permanente? Estas empresas vão permanecer, no curto e médio prazo, atuando no País? "Estas empresas estão vindo para cá, e isto é sustentável. Estão vindo para ficar. Este é um movimento irreversível. Os acordos bilaterais que regem o mundo da aviação restringem fortemente a concorrência internacional que elas poderiam sofrer nas rotas que operam, e por outro lado as gigantes nacionais do setor não têm maior interesse por voar nestas linhas", responde José Wilson Massa, da JW Massa Consultoria, especializado em infraestrutura aeroportuária.

"No passado", lembra ele, "a antiga Varig chegou a voar para boa parte destes destinos, mas o gasto para tanto não compensa atualmente para uma TAM ou uma Gol. Já para, digamos, uma aérea nacional da Nigéria, vale a pena fazer a rota São Paulo-Lagos ou Rio de Janeiro-Lagos. É uma questão de custo-benefício", explica Massa. Na mesma linha vai a opinião de Atagun, da Turkish Airlines: "Nossa empresa enxerga com forte otimismo o futuro de nossas operações no Brasil. Os investimentos que serão feitos no País por conta dos grandes eventos que se aproximam - Copa do Mundo e Olimpíadas - trarão muitos turcos para cá. E acima disso há a consolidação do Brasil como uma das mais importantes nações do cenário econômico mundial, dono de uma classe média cada vez maior e mais disposta a conhecer outros países, outros povos e outras culturas", finaliza ele.


DCI

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